domingo, 29 de dezembro de 2013

Não recordo o nome do lugar em que se passa

Era a bailarina.
Eu lembraria dos movimentos de suas mãos mesmo que não as mexesse ao pedir o café preto. Era bem verdade que até ali eu nunca havia me interessado tanto por mãos, mas eu lembraria das dela por toda uma vida. Apaixonei-me por seus movimentos há duas semanas enquanto assistia ao ballet, ela dançava the swan e lembro-me que era a única coisa que importava. Pelos minutos que a música levou do início ao fim, eu estava hipnotizado, fora de mim. Seus longos braços lançavam os mais puros movimentos, invejados pelas ondas do mar, leitor, porque faziam qualquer sujeito chorar. Ela lia o jornal e não me notava, o meu jeito desajeitado passava longe de ser belo ou notório e ela lia o jornal como já lhe disse, conquanto nunca haveria de me notar. Não que eu quisesse, não acredito que poderia manter-me sóbrio enquanto conversasse com ela, parecia-me impossível.
Todavia, dei-me num sonho vivo, enquanto acordado com meu próprio café a caminho da boca, já com biquinho e tudo; numa cena dessas, totalmente patético, encontrava-me sonhando alto, eu diria. Ela dançava pra mim num estúdio bem iluminado, só pra mim, não poderia dividi-la com outra pessoa, com outros olhos apaixonados porque ela só precisa dos meus. Nessa hora eu deixaria de existir, e ela trazendo-me toda beleza resumida num bater incomum de asas com seus braços marcaria a minha partida.

domingo, 15 de setembro de 2013

um monte deles

ela estava caindo em buracos no espaço
ela caía toda sexta
e, na verdade, não fazia sentido.
ela estava comprando essas novas botas de cowboy
ela comprou num sei por quê
porque, na verdade, não fez sentido.

então ela me procurou num sábado escuro
e ainda estava tonta do dia anterior
tomando um monte de remédios pra dormir.

foi-se deitando no meu sofá e lá dormiu
antes do chá ficar, realmente, pronto
talvez fizesse sentido, então
talvez ainda não.

seu rosto transpareceu redemoinhos. 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A palavra beleza teve a fineza de lhe acompanhar por sua vida.

               Era verdade, assim como o céu ou o chão. Aliás, era tanta verdade que não lhe cabia em casa. Então, ela caminhava de sua casa ao corcovado. Como em pálidas pinturas com tintas vagabundas dum artista qualquer de rua. Ela, com certeza, foi pintada uma centena de vezes. O sol em bela-cor banhava todo o calçadão, no qual era verdade e a própria passava vestindo a roupa feita a pincel fino. Seus cabelos ondulavam o vento em ternas pinceladas despreocupadas. Era que aquele cara, que costumava pintá-la, já não se preocupava em escondê-la. Ela estava, e deve estar, numa parede neste instante, presenciando o amor desnudo dumas pessoas desconhecidas retorcidas no cobertor. No Rio faz tanto calor... Poderia ser em São Paulo, ela não chegou a mencionar.
               Sua verdade não era questionada. Eu a olhei com saudade, daquele quadro presa num tempo só dela, presa num sonho em tintas foscas.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

estado de tristeza intensa, traduzida pelo sentimento de dor moral e caracterizada pela inibição das funções motoras e psicomotoras

o céu pesa tanto
que demoro a perceber
é que o céu desgosta
do mal-querer
ele vive no ranger
embora

senhora aurora
a iluminar

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Take 1

(A câmera se afasta do rosto dela, mostrando-a inteira vestindo um vestido leve e bege, por baixo, nada. A câmera continua se afastando e atrás dela revelam-se 2 árvores muito próximas uma da outra. Então, o quadro é uma mulher parada, olhando pro mar numa ilha de uns 100 metros de diâmetro. Ela não chora, exatamente. E seus pés estão descalços.)

Narrador: - Então, ela estava sozinha. Embora não totalmente, seus pensamentos margeavam seus olhos em completa morbidez. Sua morbidez embrenhava-se em seus cabelos num completo emaranhado de deixas, madeixas e mal-me-queres.

(A câmera continua afastando)

Narrador: - Ela estava quieta e momentaneamente perdida. Ela não podia deixar que notassem, então, fez-se ninguém em nenhum lugar exatamente.
Ela estava sozinha.  

domingo, 11 de agosto de 2013

Abbey Road

               Ele estava na sacada porque lá ventava, ele geralmente fumava lá. Vestia samba canção e uma camisa do Pink Floyd com umas manchas de café na barriga, o ano era 1969. Pelo apartamento que dividíamos no centro tocava o Abbey Road que havia lançado meses atrás. "I want you..." ao fundo e o vento sacudia seus cabelos e eles eram dourados, vinham dum profundo vento pra todas as direções e daqui do sofá era bonito. Seu rosto estava virado pra rua, hoje eu não me lembro como aparentava. Poderia ter barba naqueles dias, poderia não ter. "I want you so bad" ao fundo. Do sofá parecia bonito e eu estava estagnado comercialmente. Estava desempregado há 2 meses e minha música não parecia fazer sucesso. A geladeira andara tão vazia... A verdade não estava lá, estava aqui do sofá.
                "She's so..." ao fundo. Ele a deixara e não gostava de falar nisso. Andou estranho nas últimas semanas e enchia a cara com maior frequência e de costas seu corpo brilhava com o sol da manhã, riscava uma sombra no tapete. Não podia aguentar. "...Heavy" ao fundo. Segui por ela como que por inconsciência. O Abracei e ele sorriu,  eu consegui ver através da sua cabeça como se ele usasse uma máscara dos velhos espetáculos, não saberia dizer se sorriu porque sentia meu pau na sua bunda ou por outra razão. Nós fumamos até o fim da manhã e ele saiu pra trabalhar.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um desses dias aí

               Milhares de pessoas andam pelas ruas todos os dias certas de suas vidas, elas estão por toda parte: dirigindo carros, ônibus, olhando a hora de 5 em 5 minutos ou comendo num desses japas da vida. Às vezes, quando saio por aí, me sinto deslocado porque a maioria delas está cumprindo deveres de outras cabeças: "motorista, mais rápido, estou atrasado pro trabalho!" ou ainda "2,75, moça."; É como se você escutasse o pensamento em putrefação lá no fundo daquelas cabeças e assim desse jeito ou mesmo assim, me sento ao lado de um engravatado no ônibus. O olhar está perdido na janela e a barba está mal-feita aqui e ali. O engravatado tem um cheiro desagradável e sabe disso. Suas mãos são frias e ele não as deixa quietas, são colocadas no colo, nos bolsos e no colo de novo. Volto a prestar atenção nas pessoas em geral e naquele ambiente pesado e monótono que é a vida de todos e cada um ao mesmo tempo. O cansaço é o rosto de uma população cheia de rugas e vestida com roupas limpas e sociais (exceto a do engravatado ao meu lado que tem cara de mal lavada e ele se mexe) e se mexe e não quer parar e parece sufocado e enjoado. Levanto e sigo pro final do ônibus trombando nas pessoas, porque não poderia chegar vomitado ao banco ou a gerente me olharia torto e diria "você está extremamente sujo e fedendo", eu teria que concordar e engolir os olhares de reprovação e nojo de quem chegasse perto de mim, pensando "eu ainda mato aquele desgraçado!".
                As pessoas continuam certas de suas vidas e se sentem donas de qualquer e toda razão. No fundo elas não sabem coisa nenhuma e quanto a mim, muito menos. Eu estou completamente perdido num emaranhado de ruas e isso é um pouco triste.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

sacada

ele fumava na sacada e do sofá era bonito
dum forte vento lhe veio os cabelos
voaram em todas as direções
mechas e fumaça
e era bonito

abbey road tocava pelo apartamento
ele movia os lábios porque já sabia
do sofá era tão bonito
que me veio uma vontade de deitar
e fechar os olhos 

não saberia dizer quando
 mas sua sombra passou
pro banheiro e
 de olhos fechados continuou a ser
bonito

seria
até o fim da manhã
e provavelmente
pelo dia
adiante


quinta-feira, 30 de maio de 2013

amor

mata lentamente.

eloquente
que traduz
decadência em
tudo.

e
descolore céu.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Você não se importa mesmo, né?

              Você realmente não dá a mínima, dá pra ver. Então você deveria ir até aquele prédio, pedir cerveja preta e ficar fumando no balcão. Todo mundo espera que você faça isso. Sabe quantos caras andam atrás de você? Um monte deles. Um deles vai aparecer no bar e vai piscar pra você. Um meio riso será suficiente pro maldito se aproximar, ele vai gingar (infelizmente), mas vai. Você vai se perguntar que porra tá fazendo mas no fundo, apesar de ser decadente, você não desgosta. Não é como se alguém desgostasse disso, você não é diferente e vive dizendo que é. De qualquer forma, o cara vai querer impressionar pagando uma bebida cara mesmo não sendo rico ou essas coisas, ele polpou porque quer comer e não beber. Você sabe. Quando ele tossir pela terceira vez, você vai bufar e apagar o cigarro. Mulherzinha.
               Ele não tira os olhos das suas pernas e elas são brancas. Ele consegue imaginar a mordida que vai deixar ali, consegue sorrir de prazer. Ele te quer tanto. Assim como aquele monte de caras, mas, esse apareceu primeiro e essa é a regra. O garçom andou perguntando por você, nada de novo. É melhor subir e fechar a porta do quarto de hotel.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu não bebi o expresso porque meu horário de almoço terminou antes

               Eu estou vivendo minha pior situação comercial sentado num café naquela rua movimentada, eu estou lendo o jornal. As mesmas notícias de ontem, meu time perdeu. Eu viro a página e meu time perdeu de novo. Na mesa ao lado tem um cara com uma rosa na mão e parece nervoso e olha pra esquina sem parar. Eu acabo olhando pra esquina também. Eu leio o jornal porque o meu chefe é italiano e sabe de tudo, até das coisas que ninguém fala no escritório. Eu não durmo há 3 dias, ele provavelmente sabe. Minha banda favorita é The Velvet Underground e ele provavelmente sabe. Essa manhã disseram que eu seria despedido, alguém disse. 25 pessoas trabalham no meu andar naquele prédio e elas são iguais, não sonham nem sorriem e alguma delas disse. Elas estão sempre com papéis na mão, eu não consigo distingui-las. Meu chefe sabe que elas não sonham e também sabe que não sorriem e que eu odeio meu emprego. Talvez ele venha me despedir pessoalmente.
               Eu estou vivendo minha pior situação amorosa sentado num café naquela rua movimentada, eu estou lendo o jornal. Pedi um expresso e perdi o maço que estava no meu bolso. Essa semana eu percebi que o amor não existe e que muita gente se perde por achar o contrário, eu estava perdido. Então eu li os poemas que ela costumava me escrever e eles eram bons e falsos. Hoje, eles são tão falsos quanto um dia foram. Eu tenho um falso poema no bolso enquanto não tenho meu maço e isso é uma merda. O cara com a rosa levanta e vai embora, talvez seja despedido ou talvez trabalhe no meu andar.
             

domingo, 19 de maio de 2013

antônio roux, carioca. {1}

               Eu poderia escrever horas e horas sobre ela. Vou lhes descrever o lugar: um quarto mal iluminado, tem umas roupas em cima da cama, algumas no chão. Alguém está gemendo no quarto ao lado já fazem duas horas. A máquina de escrever que eu ganhei há alguns anos está aparentando ser mais velha do que é. Tem uma garrafa de José Cuervo ao lado da máquina, eu estou escrevendo e bebendo enquanto o quarto é mal iluminado, as roupas estão onde estão e alguém geme através da parede. E visto uma cueca e uma camisa branca manchada com não sei o quê. Eu disse que poderia escrever horas e horas sobre ela e é verdade, mas não agora. Quero lhes contar como fiquei quebrado, isso a incluirá em alguma parte e eu não me importo se ela se importa ou não. No fundo, eu sei que ela ainda pensa sobre mim, talvez com mágoa. Se você está lendo isso achando que é uma boa história, esqueça. Se está lendo porque um amigo lhe indicou, arranje um outro. Oh! Existe mais uma coisa que eu lhes preciso dizer: meu nome é Antônio Roux e eu sou brasileiro mesmo tendo um mome francês, ou um pai. 28 anos.
               

               Era verão porque eu lembro muito bem do calor que fazia, eu estava voltando pra casa a pé. Naquela época eu morava em Santa Teresa e tinha 21. Estava sem camisa. Quando cheguei em casa, encontrei o rádio ligado num programa de notícias e eu só conseguia pensar "eu tenho um rádio?" porque nunca antes tinha escutado rádio naquela casa. Bem, o que importava é que a casa não estava vazia. Uma mulher de uns 35 anos estava parada na minha frente quando cheguei ao corredor. Ela na verdade olhava uma foto na parede e parecia extremamente interessada. Fui dizendo - Ei, moça. Por que está na minha casa? - Ao que ela logo respondeu olhando na minha direção uma vez e voltando a olhar pra foto. - Sua casa? É você que mora aqui, então? Olha, cara, me desculpa. Eu tava passando mas eu realmente tava querendo fazer xixi e como a porta estava aberta... Achei que não tinha problema. - E continuou olhando a foto cortada dum recorte de jornal. Tinha um cara segurando um peixe bem grande mas ele não sorria e não estava tratando o peixe como um troféu.
- Olha, por que ligou o meu rádio? - perguntei.
- Seu rádio? HAHAHA. O rádio é meu. Acabei de comprá-lo de um cara aí em cima. Você não tem televisão... então resolvi testá-lo.
- Tudo bem, já usou o banheiro? Não quer ir embora agora?
- Quero, mas antes vou deixar meu número contigo. Você parece legal.
- Eu não quero seu número. - ela já tinha anotado e deixado em cima do sofá. Olhou pra trás e deve ter pensado em buscar o papel mas deve ter tido preguiça também, então só saiu.
               Foi mais ou menos nesse dia que tudo começou.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Eu tinha meu uísque

               Eu imagino o que a fumaça achava disso. Ela sempre dançava descompassada quando saía da minha boca e você achava graça. Sério? Eu era péssimo mas ela gostava de te obedecer. Você brincava de romper os círculos que saíam da sua boca e eu tenho certeza que a fumaça gostava. Tanto que me fazia de idiota na sua frente pra ganhar toda a atenção. No fim não importava, eu tinha meu uísque.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Você está do avesso


               Eu ri porque quem estava do avesso era você e porque estava em todo lugar. "Você está do avesso" estava naquela mensagem e passava na televisão. No jornal lia-se que não era tendência mas que sim, "você está do avesso". Era tudo que se lia. Eu prestei atenção quando você disse, assim como tentei parar de beber quando você pediu. Você parecia quebrada do mesmo jeito que eu, dava pra sentir apesar de você negar. Mas o que seria estar do avesso? Talvez todos os meus sentimentos a mostra, talvez os seus. Vai ver você conseguia enxergar por baixo da minha pele, vai ver era isso. Eu ficava parado na sua frente com ar cansado, disso eu lembro. Você falava sozinha e nunca ria e costumava olhar bastante pros meus pés, poderia saber que eu usava meias diferentes mesmo estando de calças? Era o que eu pensava.
               Você balançava e parecia ouvir uma música que ninguém mais ouvia e dizia que eu te observava muito e que poderia vir a odiar isso. Era mais do que sentir ou observar, mas o quê, eu nunca soube. Talvez eu me sinta perdido exatamente por isso: eu nunca soube o que quis e continuo no escuro esperando você brilhar. "Você está do avesso" brilhava no escuro numa luz forte de neon vermelho e o quarto era só vermelho e seu rosto também. Engraçado como a imagem de você corada voltou a minha mente, parecia pedir que eu fosse embora. Parecia dizer que se eu ficasse você cairia. "Você está do avesso" estava em todo lugar: no espetáculo, nos filmes, nas poesias que ficam fechadas nos livros. Bem, estava em todo lugar, inclusive nos seus olhos que me degustavam os nós dos dedos, os dos cabelos. Na sua boca que me observava tão de perto. Talvez por isso eu estivesse do avesso, porque você falava dentro da minha cabeça num espiral azul que girava e girava e girava e nunca parava. 
               Passaram-se por lá anos e séculos e vidas e nós estávamos sentados no topo da França e vimos esse cara que casava com uma mulher, e essa mesma mulher o trair com um músico islandês de esquina e nós sentamos no topo da França só pra descansar sob esse creme amarelo pegajoso. "Você está do avesso" e eu estou enlouquecendo; "você está do avesso" e não consegue enxergar.


(Soa melhor escutando "Si Tu Vois Ma Mère" do Sidney Joseph Bechet, mas na versão que toca em "Midnight in Paris" do Woody Allen.)

sábado, 4 de maio de 2013

Pálido como folha

               Ele está em cima de você, é verdade. Eu devo estar no teto porque posso ver as costas de alguém se mexendo lá embaixo e parece mar porque ondula. Calma aí, eu quero ir embora. Por que estou nesse seu sonho? Eu vejo dedos cortando aqueles braços e não são braços fortes e parecem vacilar. A verdade é que nunca vi dedos tão brancos ou mãos ou. Há algum tempo era eu que estava deitado bem onde vocês estão agora, eu não podia imaginar que veria seus dedos contorcendo o cabelo de um cara qualquer. Por que eu estou assistindo? Por que não consigo parar? O pior é que você sabe que eu estou olhando, você sabe. Você quer que eu olhe, não quer? Isso que eu sinto é ciúmes? Porque parece ser.
               Sabia que você está revirando os olhos? Não, não precisa abri-los! Aja naturalmente. Você revira os olhos e não passa de prazer apesar de estar tentando não perder o controle. Ele está te abrindo como uma carta, deve estar te lendo, deve estar. Você continua revirando os olhos e no fundo eu gosto porque sempre gostei quando seus olhos perdiam o foco. Agora você sorri e solta cada riso! Continua descendo e descendo e descendo e rindo e isso não é engraçado! Não é. O suor no seu pescoço tá seco ou seria saliva? Você molha os lábios e

Eu não acredito em você.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Que frustrante!

               O limão que dá no limoeiro que tem no meu quintal é amarelo que nem laranja. Isso é tão frustrante! O suco é tão azedo que dá vontade de cortar a maldita árvore e limões amarelos são tão úteis quanto copo vazio...
              Enquanto eu olhava carrancudo pro limoeiro eu percebi que alguém me olhava. Busquei todas as janelas dos vizinhos: nada. Pressentimento besta? Não, porque quando eu me ajeitei no degrau eu a vi: uma rolinha. Sim, aquele pássaro marrom estava bem atrás de um vaso de plantas e esse texto será em tempo real, assim decidido, vamos ver o que acontece:
         Vou pegá-la e colocá-la num lugar melhor, talvez com água. Oh, não! Quando eu tentei segurá-la, ela tentou voar e bateu de cara no muro. Farei uma segunda tentativa: meu deus, droga droga droga mil vezes droga... Eu nunca mais escreverei em tempo real de novo, que porra triste! Quando eu cheguei perto, ela caiu na minha mão como se tivesse desmaiado e começou a se contorcer como se estivesse tendo uma overdose, de fato, vazou um líquido verde de seu bico enquanto ela morria na minha mão de frente pro pote d'água que eu havia trazido. Ela fechou os olhos tão devagar... Será que no fim doeu? A morte é bela? É a grande cena? É a única maldita verdade? Eu não faço ideia e se Deus existe ele poderia ter evitado de começar "No surprises" do Radiohead nos meus fones de ouvido.

(Eu nem consigo acreditar que comecei o texto falando mal de uma árvore e do suco que ela dá)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Musicalize na mente:

Você é tão estranha mas veja bem, eu gosto disso porque dentre todas essas mulheres você sabe me fazer olhar pra mim mesmo, quero dizer, dentro de mim onde eu sou a verdade e uma parte de você aqui mora.
Aqui.
Essa parte pode ser mandona de vez em quando e pede pra eu visitar seu olhar, sua boca, seu jeito. E contanto que eu nao me perca, vale lembrar, você me acha. Você nota e quer saber como foi parar no meu pesar. Como foi parar dentro de mim.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Filho duma puta

               Filho duma puta! Filho duma puta trabalhadora, diga-se bem. Creio que a mãe do cara trabalhava duas esquinas da minha rua e na escola o apelido dele era "Filho duma puta". Os professores riam na sala dos professores porque dois deles já tinham comido a mãe do filho da puta e a escola toda sabia. Como se não bastasse ser Filho da puta, ele apanhava toda quinta-feira na saída da escola por 5 garotos mais velhos do ensino médio, ninguém queria ser associado ao Filho da puta, então, as pessoas fingiam não enxergar nada. Era estranhíssimo como depois da surra ele levantava, batia na roupa, catava os óculos do chão (comprados com o dinheiro de uma foda, provavelmente) e seguia pra casa como se nada tivesse acontecido. Ele não chorava. Ele não se descabelava. Não gritava. Ele sacudia a roupa e rumava pra casa.
               No começo, eu ficava frustrado com o Filho da puta, porque ele simplesmente não existia. Estudava, apanhava. Estudava, Filho da puta. Estudava e ia pra casa e apanhava no caminho e batia na roupa e ia pra casa. Eu queria que ele tentasse revidar, que enfiasse um soco no nariz de um daqueles caras e mostrasse que estava ali e que não queria apanhar. Eu queria saber se o Filho da puta sabia socar tão bem quanto os caras que socavam na mãe dele. Mas ele apenas não se mexia.
               Houve uma quinta em que o Filho da puta não apareceu na escola e essa era a única notícia que importava. Alguns diziam que ele tinha se enforcado no banheiro, outros diziam que tinha sido na cozinha como Ian Curtis, eu duvidava de ambas. Pra mim, o Filho da puta não tinha se matado porque ele não era capaz, mas gostaria de ser. Então toda quinta ele tentava morrer surrado e não conseguia. A escola era um inferno naqueles dias, sua mãe não suspeitava.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

|Provador de roupas|

               Primeiro eu vi os pés dela. Nós estávamos numa dessas lojas de shopping onde as cabines são unisex e ela estava provando jeans. A vendedora ia e voltava com 3 calças por vez e a primeira coisa que eu vi foram os pés dela por baixo da porta da cabine. Não eram pés estranhos, eram bem normais com exceção de que eram extremamente brancos. Isso me dizia que ela não ia à praia há pelo menos 3 meses, o tempo que a pele demora pra voltar a cor original ou que ela trabalhava muito em lugares fechados, talvez com ar-condicionado. Ela podia estar estressada com a vendedora que dizia "Oh, nossa! Você fica linda com essas calças.", eu não poderia dizer. A única coisa que eu sei é que a primeira coisa que eu vi foram seus pés brancos.
               Eu estava sentado enquanto minha irmã escolhia uma jaqueta de couro escuro e recusava o cartão da loja, eu estava sentado enquanto olhava aqueles pés. Ela não era alta, os pés me diziam. Ela não gostava de se relacionar com pessoas, os pés me diziam. Ela iria até a livraria depois dali e buscaria um título curioso, veria os livros sobre medicina e compraria um. O atendente da livraria daria em cima dela, elogiaria seus dentes e seus olhos e ela coraria pra não deixá-lo tão mal mas iria embora sem trocar nomes nem outra palavra, os pés me diziam. Eu devia estar com um olhar vidrado em seus pés embora não pudesse contar seus dedos, de fato eu demorei a perceber que a porta da cabine estava aberta e ela estava de calcinha. Ela estava de calcinha olhando pra mim. E por um segundo, por descuido ou cansaço ou sono ela não fechou a porta e nós nos olhamos. Ela estava de calcinha com seus pés brancos olhando dentro do meu olho, poderia ter lido minha mente e discordado com tudo que os pés me disseram, talvez ela saísse com o atendente da livraria e tomaria vinho. Talvez ela lhe dissesse, entre a segunda e a terceira taça, que não poderia mais amar e que ele perderia o tempo amargurado se perguntando por quê, ele se desesperaria por algumas semanas e começaria a beber comprometendo seu emprego. Ele deixaria de se importar e fim. BAM! A porta fecha, minha irmã aparece falando blá blá blá e eu não consigo mais olhar seus pés. O que eles me diriam? O que falariam de mim por aí pra outra pessoa?
               Ela não saiu, ela trancou a cabine e não respondeu à vendedora. Ela se sentia mal por um estranho ter visto seus pés brancos, suas pernas finas e sua calcinha. Eu fechei os olhos e os pés cochichavam por baixo da porta mas eu não conseguia ouvi-los, então decidi sair dali antes que ela passasse fome porque eu sabia que ela via minha sombra pela fresta da porta (ouvi seus pés dizendo entre um cochicho e outro).

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Cinco latas de Bud

               Cinco latas de Bud foram suficientes pra eu começar a falar com a vista, ela indagava, questionava, suplicava pra eu explicar o porquê das minhas idas e vindas até aquele lugar. Eu costumava ignorar e apenas apreciá-la como um surdo e mudo. Hoje, eu praticamente gritei porque ela realmente me deixou louco, a fotografia. Está bem, não era fotografia nenhuma mas dá o mesmo sentimento, o tempo para nas fotografias assim como quando você olha dentro do seu corpo e entra num transe louco, seu corpo não é seu e nem de ninguém, é só um corpo. Você viaja pela coluna, veias e artérias, encontra seu próprio pescoço e por fim, a mente. Mente. Mente e finge estar feliz, mente e finge gostar. Você só sabe mentir. Eu não entendo. Simplesmente não, mas você é realmente boa nisso.
               Passar a tarde não foi tão difícil porque o sol ajudou, ele estava agradável, tanto que parecia sentir pena. Não havia tantas pessoas na rua mas todos pareciam sentir pena: o porteiro, o motorista de ônibus, o sol. Que desespero! O pior de tudo é o sentimento de culpa, essa é a verdade. Tinha esse casal num momento super romântico, grande besteira. Eles não precisavam de alguém falando sozinho ali perto, mas quem se importava com o que eles precisavam? Eu cheguei primeiro, eu dito as regras. Contudo, o sentimento de culpa ainda estava lá, sentado do meu lado e me olhando feio como quem diz "Seu mal-amado desgraçado, vá se foder!". Nem preciso dizer que fingi não ver sentimento nenhum assim como finjo não sentir qualquer outro.
               A culpa em si dói mais ainda quando se está andando sozinho porque as ideias trabalham de uma forma mais elaborada e tudo se intensifica, a tontura, a tortura. Você passa pelas pessoas geralmente de cabeça baixa preocupado em não tropeçar nos pés e quando levanta a cabeça só encontra olhos acusadores. "Porra!" não parece ter fim, a cobradora diz que vai te dar o troco mais tarde porque você não tinha 15 centavos e você é obrigado a sentar perto dela como que por pressão de ela estar com o dinheiro do próximo ônibus. Ela me olha de canto de olho de 5 em 5 minutos e eu não consigo relaxar e meu pescoço fica duro e eu só queria dar uma boa mijada.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Tomo-me por amargurado sempre que o café some da caneca. (nem sempre, só quando respiro.)

               Vou pingando água no chão preparando a chaleira. Você já lavou alguma chaleira, leitor? É um saco e extremamente cansativo porque assim como corpo de uma mulher, tem várias curvas que na chaleira são desnecessárias, não na mulher. Depois de tudo, ainda vem o tempo inacreditavelmente longo até a água ebulir em que se espera de braço cruzado em frente ao fogão com ar daquele tédio visto em filmes ruins, a única diferença é que eu não puxo o fumo. Já deu 15 minutos e as bolhas saltitam dentro da chaleira: Voilá!
               Hora de preparar o coador, a jarra e o auto-controle pra não queimar a mão de propósito pela vez que já perdi a conta. Conheço bem a dor e ela conhece-me melhor ainda: nós somos amigos, eu e ela. Às vezes eu preciso dela e toda dor precisa de alguém. É como imaginar um assaltante que precisa de um assaltado ou um Deus que precisa de endeusadores ou putas que precisam de uma avenida. São coisas que precisam de outras pra existir e independente de querer ou não ou talvez, existem. A garrafa térmica está pronta, fecho a tampa e me sinto bem, não só pelo cheiro de café no ar ou pelas gotas na pia que vazaram, mas porque não queimei minha mão pelo fato de que trouxe de uma feira essa luva pra cozinhar por puro charme (pensei e foi além disso!) assim como la toque (essa por puro charme mesmo pois não cozinho com frequência.)  A fumaça ainda sobe até o teto enquanto encho a caneca com proporções grandes, lembre-se, proporções grandes: veja bem, por pura preguiça! Diabos ter que ir na cozinha de hora em hora pra poder beber o que for: água, cachaça, café. 
               E a grande questão é: QUEM DIABOS BEBEU O MEU CAFÉ? Porque eu simplesmente não lembro de ter dado um gole e ele desapareceu enquanto eu escrevia. 

               Lá se vai a inspiração junto com a vontade de molhar o pico. Inspiração? Tenho contos pela metade e livros abandonados, histórias mal contadas (ou seja, como essa) e poemas pobríssimos, por conta da falta de sono? Por conta de eu não estar acordado e nem dormindo ou só por falta de jeito?

terça-feira, 23 de abril de 2013

você em meio a mim

que caia no esquecimento
e que entristeça outra gente
alguém que mente
alguém contente

vê se me esquece
conquanto eu não queira
nem dessa e nenhuma maneira
nem dessa
maneira
costumeira

quarta-feira, 17 de abril de 2013

É um tipo de explicação sobre alguma frustração.

Sabe, nós estamos morando juntos há mais ou menos 2 anos e eu ainda não tenho certeza se a amo de volta. É algo que deveria ser importante, seria bom poder acordar e dizer "eu te amo" sem a pressão da mentira esmagando minha cabeça. Ela não sabe e eu gostaria que nunca soubesse mas precisa ser dito.
Isso me lembra, o fato do amor ser importante, a história daquele triângulo amoroso de Cuiabá em que haviam aqueles dois caras que não suportavam um ao outro até que descobriram amar a mesma garota cujos cabelos curtos participavam dos sonhos de ambos, ela era indecisa e eles tornaram-se flexíveis e tudo foi possível até onde eu soube, pelo menos.
Semana passada ela escreveu num cartão que eu estou distante e que eu não sei lidar com relacionamentos e eu tenho carregado no bolso esse bilhete desde então, ela tem razão e é horrível admitir isso. Nós nos conhecemos de uma forma agradável e hoje isso não parece fazer sentido, nem mesmo o fato de não estarmos nos comunicando como antes. Eu gostaria de me entender e gostaria que ela também o fizesse.

domingo, 31 de março de 2013

cheiro de mar com elephant gun

pés molhados e fundos na areia entre os dedos grãos grãos grãos mãos com calos oriundo do violão gaita em dedos acordeon acordeon e um único trompete mundos e mundos entre o mar a onda do som a onda do mar e tons viajavam como apelo como lhe aprouver como o cheiro do mar que persistia no meu cabelo

domingo, 24 de março de 2013

escarcéu

houve um tempo
em que o mar lhe descia a garganta
e ouviam-se ondas e tamborins no fundo da barriga
e as pessoas dançavam ao som das risadas do mar
e ninguém se importava com a educação

sexta-feira, 15 de março de 2013

delírio

além céu e
reis do horizonte
discutiam sobre homem
e no que
soberbariam-no a ter

o homem lhes disse, aos reis:
sou escravo dos olhos
sou escravo dos modos e das crenças
e os reis do horizonte disseram:
não és mais que carne falante
onde nunca podes chegar a mim

então o homem virou para o além céu e disse:
sou escravo dos pés
sou escravo da gravidade e da física
e além céu apenas disse:
tu que cuides do solo
onde nunca podes correr a mim

mas o homem sonhava
e transformou montanhas em escadas
e a própria mente num elástico
e enlaçou os reis do horizonte
em monte
e além céu
em mel
e provou ser livre e provou voar e provou enxergar melhor que qualquer um

e acordou

quinta-feira, 14 de março de 2013

a poeta e o francês

estavam marejados de lágrimas, os olhos dela
e aquilo era bonito e triste
tanto quanto "olhos nos olhos" de chico buarque
como se tivessem tirado seu coração do lugar

ela estava parada na porta da estação com um lenço
ele estava parado ao pé do embarque, chocado
ela chorava, se bem lembro
ele não sabia nem nunca soube

em pensamentos encontraram-se
nos dela ele havia aprendido a agradecer em português
nos dele ela havia guardado o verso pra ela
como se aquilo tudo não pudesse ter existido

a música que tocava na estação devia ser relevante
posto que vaguevam tantos olhares perdidos e frívolos
quase tristes com tal momento de despedida soberba
e sem abraço nem olhos nos olhos como a música dizia

nem aceno

terça-feira, 12 de março de 2013

café & talvez

quente café e grande talvez
se ela me amar
como ama café
fico feliz de fazer parte
do seu café da manhã
tão de quando em vez

domingo, 10 de março de 2013

(n)a varanda com vento frio e cheio de descuido e desgosto

você se cala e respira
e tenta entender

você se abraça e respira
e busca calor enfim

você se resolve e respira
e consegue esquecer

você se olha e respira
e não fala de mim

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Parte 1 de algo.


Tinha essa garota que detestava carnaval, ninguém sabe ou soube o porquê, mas era assim. Naquele dia em especial sua casa vibrava, aparentemente um bloco de carnaval passava bem na sua rua e vinha com serpentinas e com uma faixa que dizia “Carmelitas”. Carmelitas? O que vem ao caso é que tanta folia não combinava com o ritmo dela e ela nunca foi de ficar parada na porta olhando bloco passar pelo olho mágico, mas aquele era diferente. Fez isso durante toda a tarde e quando começou a noite algumas pessoas pararam em frente a sua casa e começaram a soltar fumaça, aquilo a despertava para o passado e a fazia triste e não a deixava dormir.
No fundo era saudade que ela sentia, saudade tanto do que foi tanto do que não foi. Saudade de como o sol brilhava nos cabelos dela e saudade da tonalidade da pele dela, era saudade. E isso a fez encostar a testa na parede e descansar, até que...
TUM! TUM! TUM!
Aquilo era uma 9mm, ela sabia e estava tão perto! Talvez até do outro lado da porta, correu e se jogou atrás do sofá machucando o joelho na queda, meio dramática, diga-se de passagem. E TUM. Silêncio. Na rua um gato miou, um carro cantou pneu e alguém gemeu.
Então uma música começou a tocar e era Bigmouth Strikes Again dos Smiths, era quase dançante, talvez não naquela situação, talvez em nenhuma, mas nas discotecas as pessoas costumavam dançar essa música com os olhos fechados e rindo um riso frouxo, como se estivessem em outro lugar, vivendo distante.
Naquela situação nada era engraçado, a cena passou em sua cabeça conforme foi acontecendo: Um carro parou e com uma pistola alguém executou os maconheiros que estavam em frente a sua casa. Ela pensou em trancar a casa e tentar dormir e deixar o trabalho para a polícia, tanto de limpar como de achar culpados, de fato era sensato não abrir a porta, mas havia uma coisa chamada curiosidade e alguém podia estar ferido precisando de ajuda...
Juntou toda sua coragem e girou a chave na maçaneta e depois a própria maçaneta revelando uma noite quieta, parece que ninguém saiu pra ver o que havia acontecido. Ninguém viu aqueles corpos que se não fosse pelo barulho dos tiros nem por todo aquele sangue escorrendo lento pela escadaria, qualquer um diria que aquelas pessoas estavam apenas dormindo de olhos abertos, menos ela. Essa ela estava deitada, mas tremia e chorava com um baseado perto da mão no chão, olhava o céu e devia pensar que se fosse pra morrer, que fosse olhando o céu, as estrelas e a falta de lua.
E então a garota baleada percebeu que havia algum tempo alguém estava parado na porta e chorou ainda mais talvez pra chamar atenção, abaixou junto à garota baleada e perguntou:
 - Você está ferida? - Estava, que pergunta besta, mas ela fez que não com a cabeça e abriu a boca, mas logo fechou. Então a música dos Smiths tocou novamente e era o celular de um dos amigos mortos dela, tocava e lia-se “amor” chamava.
A garota baleada grunhiu e disse:
 - Quem é você? - Quem era ela, afinal? Quem? Alguém cuja vida não se tratava mais do que trabalhar e voltar pra casa, trabalhar e casa de novo. Às vezes, saía com um amigo... Um cara que trouxe da faculdade de história pra sua vida medíocre, mas ela não respondeu isso. Existia também a garota da saudade, aquela dos cabelos ao sol e dos olhos castanhos cheios de pintas de um tom mais claro, isso era novo, mas também não disse isso. Apenas virou o rosto e respondeu:
 - Alguém, não vou dar meu nome pra alguém que acabou de ser baleada por não sei qual motivo - e a garota baleada retrucou:
 - Eu não fui baleada... Você precisa ajudar meus amigos, eles foram.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

cher vous le savez?

me cria em expectativas e eu gosto
mesmo sabendo o quão perigoso é
me cria numa em especial
e me cria sem saber

você se sente completa?

me cria numa confusão de braços
por tanto tempo quanto for preciso
me cria em abraços e eu gosto
porque são confortáveis

minhas maquinações infalíveis
são irracionais
e um tanto quanto incompreensíveis
mas acabam por me levar a
você

(como nos filmes)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

logo

você sabe de mim
e eu sei de você
então vem

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

bloco

teu sorriso inebria
e solta um monte de sons
e parece gostar
porque acaba por rir mais ainda
e parece nunca parar

teu sorriso inebria
porque a cena vai solta
sem meu parecer
e esquece que está acontecendo
amornecendo

os teus olhos vieram dum profundo mar
que também inebriam
já para aí estou alto
e querendo descer
por medo de cair
e morrer

tua mão me segura
e adivinha? inebria
é como se eu não quisesse pensar
mas lá vai

"você encostada numa parede com grade
com o rosto pro chão
e a cabeça em profusão
eu inebriado e expulso da realidade
puxei seus braços e dei-te os meus
e você parecia sonhar
com os olhos fechados"

e então acorda e adeus

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

st teresa

o olhar chegava a alma
como em filme
e parecia entender
alarde!

o sol chegava aos dois
no triste morro
e parecia derreter
a tarde

sábado, 12 de janeiro de 2013

1 - (A Panela)

Tudo referia-se àquela panela, naquele fogão. O ar descia numa grossa fumaça de cheiro bom e enchia os olhos dela de lágrimas, nem de felicidade nem de tristeza. Ela mexia mexia mexia como dizia na receita e engrossava o chocolate, cantarolando ora no pensamento, ora na cozinha. Abriu a geladeira e desviou uns tantos potes e uma melancia a fim de arrumar algum espaço, nutrindo do fundo do coração que o aprouvesse tanto quanto a presença dela, que era de longe, o que mais importava a ele.
Virou o brigadeiro num prato (daqueles fundos) e o enfiou na geladeira, então a fechou com um sorriso nos lábios, com olhar distante e pouco concentrado, vivia lá dentro da cabeça e quase nunca cá fora. Obrigou-se a acordar e foi se vestir enquanto esperava a visita dele, dos cabelos encaracolados.

Obs: Costumam dizer que o chocolate é amigo do velho coração partido, costumam dizer. Eu digo que o chocolate é amigo do coração, tanto partido como não. É amigo também de corações inteiros, aqueles que um dia já foram e aqueles que ainda são. Lembrei-me de tudo isso após preparar um brigadeiro e bem, nham nham...

Até logo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

um garoto imberbe caindo por alguém

foi num carro
ao que o sol beijava
tua janela:
aquarela

curva pra cá
e tu caía aqui
curva pra lá
e eu em ti

mascava chiclete velho
enquanto olhava
ora cá, ora lá
ao sol vermelho ou a mim

eu atendia ao seus olhos
no profundo coração
rebentava como torpor
e transformava-se: 
amor

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

o que há para lá do meu sorriso?

um dia forçou-me a rir
entoando cantiga
falando de mim

e doeu-lhe o coração
onde num céu abriga
um sorriso assim

e então chorou
de doer barriga
corou tom carmesim

um dia peguei-lhe a mão
num toque então
pra lembrar de mim.