domingo, 24 de fevereiro de 2013

Parte 1 de algo.


Tinha essa garota que detestava carnaval, ninguém sabe ou soube o porquê, mas era assim. Naquele dia em especial sua casa vibrava, aparentemente um bloco de carnaval passava bem na sua rua e vinha com serpentinas e com uma faixa que dizia “Carmelitas”. Carmelitas? O que vem ao caso é que tanta folia não combinava com o ritmo dela e ela nunca foi de ficar parada na porta olhando bloco passar pelo olho mágico, mas aquele era diferente. Fez isso durante toda a tarde e quando começou a noite algumas pessoas pararam em frente a sua casa e começaram a soltar fumaça, aquilo a despertava para o passado e a fazia triste e não a deixava dormir.
No fundo era saudade que ela sentia, saudade tanto do que foi tanto do que não foi. Saudade de como o sol brilhava nos cabelos dela e saudade da tonalidade da pele dela, era saudade. E isso a fez encostar a testa na parede e descansar, até que...
TUM! TUM! TUM!
Aquilo era uma 9mm, ela sabia e estava tão perto! Talvez até do outro lado da porta, correu e se jogou atrás do sofá machucando o joelho na queda, meio dramática, diga-se de passagem. E TUM. Silêncio. Na rua um gato miou, um carro cantou pneu e alguém gemeu.
Então uma música começou a tocar e era Bigmouth Strikes Again dos Smiths, era quase dançante, talvez não naquela situação, talvez em nenhuma, mas nas discotecas as pessoas costumavam dançar essa música com os olhos fechados e rindo um riso frouxo, como se estivessem em outro lugar, vivendo distante.
Naquela situação nada era engraçado, a cena passou em sua cabeça conforme foi acontecendo: Um carro parou e com uma pistola alguém executou os maconheiros que estavam em frente a sua casa. Ela pensou em trancar a casa e tentar dormir e deixar o trabalho para a polícia, tanto de limpar como de achar culpados, de fato era sensato não abrir a porta, mas havia uma coisa chamada curiosidade e alguém podia estar ferido precisando de ajuda...
Juntou toda sua coragem e girou a chave na maçaneta e depois a própria maçaneta revelando uma noite quieta, parece que ninguém saiu pra ver o que havia acontecido. Ninguém viu aqueles corpos que se não fosse pelo barulho dos tiros nem por todo aquele sangue escorrendo lento pela escadaria, qualquer um diria que aquelas pessoas estavam apenas dormindo de olhos abertos, menos ela. Essa ela estava deitada, mas tremia e chorava com um baseado perto da mão no chão, olhava o céu e devia pensar que se fosse pra morrer, que fosse olhando o céu, as estrelas e a falta de lua.
E então a garota baleada percebeu que havia algum tempo alguém estava parado na porta e chorou ainda mais talvez pra chamar atenção, abaixou junto à garota baleada e perguntou:
 - Você está ferida? - Estava, que pergunta besta, mas ela fez que não com a cabeça e abriu a boca, mas logo fechou. Então a música dos Smiths tocou novamente e era o celular de um dos amigos mortos dela, tocava e lia-se “amor” chamava.
A garota baleada grunhiu e disse:
 - Quem é você? - Quem era ela, afinal? Quem? Alguém cuja vida não se tratava mais do que trabalhar e voltar pra casa, trabalhar e casa de novo. Às vezes, saía com um amigo... Um cara que trouxe da faculdade de história pra sua vida medíocre, mas ela não respondeu isso. Existia também a garota da saudade, aquela dos cabelos ao sol e dos olhos castanhos cheios de pintas de um tom mais claro, isso era novo, mas também não disse isso. Apenas virou o rosto e respondeu:
 - Alguém, não vou dar meu nome pra alguém que acabou de ser baleada por não sei qual motivo - e a garota baleada retrucou:
 - Eu não fui baleada... Você precisa ajudar meus amigos, eles foram.


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