domingo, 26 de dezembro de 2010

Esqueleto

Sentado no banco público esperando a vida passar lendo o jornal. As folhas de outono estavam pelo chão, haja vista a sujeira amarela alaranjada por toda parte. Às vezes todas as pessoas estavam de férias dos serviços. Eu estava folheando aquele jornal por falta de um meio confortável de permanecer na praça. Mas não lia absolutamente nada, tampouco via as fotos de pessoas que nem ao menos conheço. Naquela manhã, notei meus ossos em frente ao espelho e percebi que minha estrutura era óbvia e calculada. Por cima da pele eram só ossos comuns.
Ouvi algum barulho à direita, desprendi meus olhos do jornal e vinha uma bicicleta guiada por uma caveira, um esqueleto sorridente por falta de esconder seus dentes. Ele me olhou com seus fundos espaços negros que agiam como olhos e disse “Bom dia.”.
Eu sabia que não era um sonho, cocei minha bochecha e deparei com uma mão igualmente branca e feita apenas de ossos, nada mais a cobrir minhas verdades.
Parecia que eu não deveria me preocupar se eu era um esqueleto preocupado ou não, afinal, as coisas não tinham mais distinções e todos eram iguais.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mondscheinsonate de Beethoven.

Meus passos eram inseguros e muitas vezes eu tropeçava em pedras soltas por aquela rua. Eu conseguia ouvir gritos horríveis dali e não só os gritos entravam ao meu pensamento; mesmo se eu estivesse muito longe dali, poderia ter ouvido o som daquele piano velho tocando Mondscheinsonate de Beethoven. Aquilo era realmente excepcional e os militares a minha volta ficaram nervosos com o som, mas continuaram a levar o pequeno grupo ao muro. Eu tinha só 8 anos, mas naquela caminhada chorei muito com as notas musicais produzidas por um homem igual a mim. Meu pai também ouvira a música e num simples olhar triste pra mim, esbanjou um minúsculo sorriso. Um sorriso que me deu esperança de que outras pessoas possam viver sem a guerra. Eu me senti mais velho, eu me senti um homem. E decidi fechar os olhos para que minha última visão pudesse ser de meu pai vivo.
Meu pai foi levado ao muro primeiro.
Continuei com os olhos fechados mais que tudo.
Fui logo após, mas agora, eu não estava com medo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Garoto Pedro.

Pedro era um menino sadio
Mas tinha um grande problema
Vivia a esperar o navio
Vivia a esperar Jurema

Ela o deixara para encontrar
Outros ares a respirar
E o pobre Pedro a suspirar
Em cima da pedra a chorar

Diziam naquela aldeia
Que ele era só coração
Que com os pés na areia
Faria uma oração:

“Oh, pequena Jurema
Por que não voltas para mim?
Estou a tempos criando o poema
Que a trará de volta assim”

Ele gostava de sempre para o mar
Chegar a declarar seu pesar
Porque tudo que vai pra lá
Tende um dia a voltar.