terça-feira, 24 de agosto de 2010

Nada além daqueles remédios, sabe?

Mais do que pensar. Outra coisa.
Mais do que amar, sabe?
Aqueles dois amigos de jornadas
Estão aqui para dosarem seus coquetéis.
E estão esperando algo mais
Um pedaço de vida? Sim, sim.
E a cada semana a fila engrandece
E nem mencionarei os meses e anos, está bem?
Mas Já não adianta falar, pois mal.
Acho que sendo um futuro incerto como és.
Não deveria estar escrevendo coisas assim, porém,
Estou escrevendo e estou relembrando
Que escorregar nos coquetéis e perpassar
Será, com certeza, algo ainda mais comum.
Dizem que...
Fim.

sábado, 14 de agosto de 2010

A causa.

Estou infeliz. Estou desenxabido.
O passado me lembra por quem eu já lutei. O passado me lembra quem eu já amei.
Eu tinha apenas uma família e não buscava outro palco. Eu estava desolado. Com muito esforço, paguei um pequeno quarto em um hotel torpe e escrevi a carta:

“Todos aqueles que brilharam pela nação, todos aqueles que sofreram com a destruição. Mostrem-se, por mim, agradecidos; sei que nada sou para lhes falar, pois sou apenas um velho, que há muito não pode pagar a própria conta; que a muito não pode mostrar por conta própria, os sentimentos escondidos em um coração morto.

Escrevo nesta carta, por querer honrar mais um desses homens coitados. Lágrimas surgiram quando não recebia uma única notícia dele Meu filho. Que havia ido para a grande guerra. Pior que isso, só minha mulher com gripe espanhola sendo destruída por dentro. Pobres almas que se foram com a doença e com a 1ª guerra mundial.

Oh, mas meu grande amor, minha esposa, faleceu. E o corpo do meu filho voltou, sem vida. O inverno nunca tinha sido tão frio, naquele ano o sedentarismo abateu-me. Para sempre, calei-me e fui ficando cada vez mais dependente de remédios. Vivi sozinho por anos e anos. E não gostava da insônia, oh a insônia. Eu desejava ter uma noite em paz. Mas isso nunca aconteceu. ”


Levantei-me da escrivaninha, e achei que o cemitério era o melhor lugar para chorar. Lembrando. Lembrando. Pensando. E chorando.

Depois de tudo, eu estava vazio.

sábado, 7 de agosto de 2010

O velho do cais.

O mar está alarmado.
Eu consigo sentir os sabores do oceano. Estou descalço, sinto a terra sob meus pés. Meu coração está acelerado. Minha mente viaja para todas as partes da minha vida. Quase posso sentir os carinhos da minha mãe, do meu pai. Quase posso sentir.

O ar está cada vez mais rarefeito. Posso sentir a minha vida indo para o mar.
Não consigo controlar as emoções, o fim está tão próximo. Só pude escolher o melhor lugar do mundo. O cais. O amanhecer.
É difícil dizer adeus. A curiosidade já ultrapassa o medo. Mas eu sinto dor. Muita dor.

Hoje, em meu último dia, não posso dizer que o final está sendo feliz, porém minha vida foi um conto de graças. Eu tive ajuda dela para que fosse assim, minha esposa.
Conseguia amá-la mais do que a minha vida. Aliás, ela era a minha vida. Mas se foi. Ela levou o brilho dos meus olhos. Estava completamente sozinho e com muito frio.

Nas circunstancias que eu estou não me gabo. A velhice consegue me pegar de jeito. Óbvio que o meu corpo está gasto, aos 67 anos não consigo me manter mais.
A estranha doença que tenho me deixa confuso e desmemoriado. Com tosses monstruosas e dores de cabeça insuportáveis.
Os médicos me deram apenas quatro meses e minha esposa me deixou antes disso. Mas esse pensamento é tão egoísta, não me parece correto. E no meu último dia, eu só espero fechar os olhos e dormir para sempre.

domingo, 1 de agosto de 2010

Um caso familiar.

Meu braço já doía, normal depois de ficar segurando aquela criança por mais que 2 horas esperando, esperando. Talvez em vão. Pois não via sinal daquela moça que havia me passado a criança para que fosse correndo buscar o remédio da própria. Pensei então, que a casa fosse longe, mas já estava desistindo desse pensamento. A mulher fez de caso pensado, deixou a criança comigo. Entregou a alguém que talvez fosse cuidar da menininha que estava no meu colo. Sentei para repor ideias na cabeça, estou perto da minha casa e uma estranha me entrega uma criança que pode ser ou não, sua filha.

Minha casa sempre foi um péssimo lugar para se viver. Meus pais brigam, minha irmã é revoltada e tudo está sempre um caos. Tento viver bem lá, e penso em como seria se eu a levasse pra casa.

Pergunto-me: eu cuidarei dessa criança?

A resposta que vem imediatamente me surpreende: sim.

Mas eu não estou preparada para assumir essa responsabilidade; o que falaria minha mãe, quando chegasse com esta linda menina nos meus braços mais tarde? Ou que iria dizer meu pai?

Contorno esses pensamentos e resolvo esperar e esperar mais um pouco. Em vão. Com certeza.

~

Chego em casa por volta das 5 horas da tarde, a menina dorme em meus braços e faço o possível para não acorda-la. Minha mãe logo me vê.
O rosto dela se contorceu de tal maneira que me perguntei se ela tinha gostado da visita. Mas a verdade era que ela não tinha ideia de quem era a menina. Expliquei tudo e minha mãe sentou no sofá. Respirou fundo. Disse-me baixo que eu não sabia o que estava fazendo.

Aquela menina estava ali para alguma coisa, ela me deixava alegre, feliz. E percebi que minha mãe também sentia. Ela fazia bem, nos fazia bem. Pude sonhar com um futuro.
Meu pai chegou em casa, com ares de cansaço, como sempre. Ele me abraçou forte quando lhe contei minha história, e fomos todos dormir.

Na manhã seguinte não existia mais nenhuma criança. Ela se foi e deixou sua energia em nós, fomos tocados.
E mais uma família que recupera suas forças.