quarta-feira, 24 de abril de 2013

Tomo-me por amargurado sempre que o café some da caneca. (nem sempre, só quando respiro.)

               Vou pingando água no chão preparando a chaleira. Você já lavou alguma chaleira, leitor? É um saco e extremamente cansativo porque assim como corpo de uma mulher, tem várias curvas que na chaleira são desnecessárias, não na mulher. Depois de tudo, ainda vem o tempo inacreditavelmente longo até a água ebulir em que se espera de braço cruzado em frente ao fogão com ar daquele tédio visto em filmes ruins, a única diferença é que eu não puxo o fumo. Já deu 15 minutos e as bolhas saltitam dentro da chaleira: Voilá!
               Hora de preparar o coador, a jarra e o auto-controle pra não queimar a mão de propósito pela vez que já perdi a conta. Conheço bem a dor e ela conhece-me melhor ainda: nós somos amigos, eu e ela. Às vezes eu preciso dela e toda dor precisa de alguém. É como imaginar um assaltante que precisa de um assaltado ou um Deus que precisa de endeusadores ou putas que precisam de uma avenida. São coisas que precisam de outras pra existir e independente de querer ou não ou talvez, existem. A garrafa térmica está pronta, fecho a tampa e me sinto bem, não só pelo cheiro de café no ar ou pelas gotas na pia que vazaram, mas porque não queimei minha mão pelo fato de que trouxe de uma feira essa luva pra cozinhar por puro charme (pensei e foi além disso!) assim como la toque (essa por puro charme mesmo pois não cozinho com frequência.)  A fumaça ainda sobe até o teto enquanto encho a caneca com proporções grandes, lembre-se, proporções grandes: veja bem, por pura preguiça! Diabos ter que ir na cozinha de hora em hora pra poder beber o que for: água, cachaça, café. 
               E a grande questão é: QUEM DIABOS BEBEU O MEU CAFÉ? Porque eu simplesmente não lembro de ter dado um gole e ele desapareceu enquanto eu escrevia. 

               Lá se vai a inspiração junto com a vontade de molhar o pico. Inspiração? Tenho contos pela metade e livros abandonados, histórias mal contadas (ou seja, como essa) e poemas pobríssimos, por conta da falta de sono? Por conta de eu não estar acordado e nem dormindo ou só por falta de jeito?

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