tarde ia e lá estava o padeiro com o pão doce
havia naquela rua uma menina dos cabelos amarelos
ela costumava dizer que o doce era todo dela
por ser amarelo
eu relutava, dizia estar enganada
ela esperava que eu ficasse desatento e corria
corria com meu pão doce mordido pra cima e pra baixo
e ria, ria como se aquilo tudo dependesse de um riso
eu sempre arfava e parava meio frustrado
por não ter o pique dela, nem os cabelos dela
se tivesse, voaria como raio de sol
como brilho da luz
como ela
no fim, ela devolvia meu pão dizendo "tá babado"
eu corava mas comia e ela sorria
a lua subia e nós conversávamos sobre filmes
a lua descia e falávamos sobre espetáculos
apesar do tanto que conversamos
as palavras se perderam no tempo
como que pelo sol dos cabelos dela
roubando toda atenção pra si
ao que meus olhos podem confirmar
num tom sonolento