quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um desses dias aí

               Milhares de pessoas andam pelas ruas todos os dias certas de suas vidas, elas estão por toda parte: dirigindo carros, ônibus, olhando a hora de 5 em 5 minutos ou comendo num desses japas da vida. Às vezes, quando saio por aí, me sinto deslocado porque a maioria delas está cumprindo deveres de outras cabeças: "motorista, mais rápido, estou atrasado pro trabalho!" ou ainda "2,75, moça."; É como se você escutasse o pensamento em putrefação lá no fundo daquelas cabeças e assim desse jeito ou mesmo assim, me sento ao lado de um engravatado no ônibus. O olhar está perdido na janela e a barba está mal-feita aqui e ali. O engravatado tem um cheiro desagradável e sabe disso. Suas mãos são frias e ele não as deixa quietas, são colocadas no colo, nos bolsos e no colo de novo. Volto a prestar atenção nas pessoas em geral e naquele ambiente pesado e monótono que é a vida de todos e cada um ao mesmo tempo. O cansaço é o rosto de uma população cheia de rugas e vestida com roupas limpas e sociais (exceto a do engravatado ao meu lado que tem cara de mal lavada e ele se mexe) e se mexe e não quer parar e parece sufocado e enjoado. Levanto e sigo pro final do ônibus trombando nas pessoas, porque não poderia chegar vomitado ao banco ou a gerente me olharia torto e diria "você está extremamente sujo e fedendo", eu teria que concordar e engolir os olhares de reprovação e nojo de quem chegasse perto de mim, pensando "eu ainda mato aquele desgraçado!".
                As pessoas continuam certas de suas vidas e se sentem donas de qualquer e toda razão. No fundo elas não sabem coisa nenhuma e quanto a mim, muito menos. Eu estou completamente perdido num emaranhado de ruas e isso é um pouco triste.