quinta-feira, 30 de maio de 2013

amor

mata lentamente.

eloquente
que traduz
decadência em
tudo.

e
descolore céu.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Você não se importa mesmo, né?

              Você realmente não dá a mínima, dá pra ver. Então você deveria ir até aquele prédio, pedir cerveja preta e ficar fumando no balcão. Todo mundo espera que você faça isso. Sabe quantos caras andam atrás de você? Um monte deles. Um deles vai aparecer no bar e vai piscar pra você. Um meio riso será suficiente pro maldito se aproximar, ele vai gingar (infelizmente), mas vai. Você vai se perguntar que porra tá fazendo mas no fundo, apesar de ser decadente, você não desgosta. Não é como se alguém desgostasse disso, você não é diferente e vive dizendo que é. De qualquer forma, o cara vai querer impressionar pagando uma bebida cara mesmo não sendo rico ou essas coisas, ele polpou porque quer comer e não beber. Você sabe. Quando ele tossir pela terceira vez, você vai bufar e apagar o cigarro. Mulherzinha.
               Ele não tira os olhos das suas pernas e elas são brancas. Ele consegue imaginar a mordida que vai deixar ali, consegue sorrir de prazer. Ele te quer tanto. Assim como aquele monte de caras, mas, esse apareceu primeiro e essa é a regra. O garçom andou perguntando por você, nada de novo. É melhor subir e fechar a porta do quarto de hotel.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu não bebi o expresso porque meu horário de almoço terminou antes

               Eu estou vivendo minha pior situação comercial sentado num café naquela rua movimentada, eu estou lendo o jornal. As mesmas notícias de ontem, meu time perdeu. Eu viro a página e meu time perdeu de novo. Na mesa ao lado tem um cara com uma rosa na mão e parece nervoso e olha pra esquina sem parar. Eu acabo olhando pra esquina também. Eu leio o jornal porque o meu chefe é italiano e sabe de tudo, até das coisas que ninguém fala no escritório. Eu não durmo há 3 dias, ele provavelmente sabe. Minha banda favorita é The Velvet Underground e ele provavelmente sabe. Essa manhã disseram que eu seria despedido, alguém disse. 25 pessoas trabalham no meu andar naquele prédio e elas são iguais, não sonham nem sorriem e alguma delas disse. Elas estão sempre com papéis na mão, eu não consigo distingui-las. Meu chefe sabe que elas não sonham e também sabe que não sorriem e que eu odeio meu emprego. Talvez ele venha me despedir pessoalmente.
               Eu estou vivendo minha pior situação amorosa sentado num café naquela rua movimentada, eu estou lendo o jornal. Pedi um expresso e perdi o maço que estava no meu bolso. Essa semana eu percebi que o amor não existe e que muita gente se perde por achar o contrário, eu estava perdido. Então eu li os poemas que ela costumava me escrever e eles eram bons e falsos. Hoje, eles são tão falsos quanto um dia foram. Eu tenho um falso poema no bolso enquanto não tenho meu maço e isso é uma merda. O cara com a rosa levanta e vai embora, talvez seja despedido ou talvez trabalhe no meu andar.
             

domingo, 19 de maio de 2013

antônio roux, carioca. {1}

               Eu poderia escrever horas e horas sobre ela. Vou lhes descrever o lugar: um quarto mal iluminado, tem umas roupas em cima da cama, algumas no chão. Alguém está gemendo no quarto ao lado já fazem duas horas. A máquina de escrever que eu ganhei há alguns anos está aparentando ser mais velha do que é. Tem uma garrafa de José Cuervo ao lado da máquina, eu estou escrevendo e bebendo enquanto o quarto é mal iluminado, as roupas estão onde estão e alguém geme através da parede. E visto uma cueca e uma camisa branca manchada com não sei o quê. Eu disse que poderia escrever horas e horas sobre ela e é verdade, mas não agora. Quero lhes contar como fiquei quebrado, isso a incluirá em alguma parte e eu não me importo se ela se importa ou não. No fundo, eu sei que ela ainda pensa sobre mim, talvez com mágoa. Se você está lendo isso achando que é uma boa história, esqueça. Se está lendo porque um amigo lhe indicou, arranje um outro. Oh! Existe mais uma coisa que eu lhes preciso dizer: meu nome é Antônio Roux e eu sou brasileiro mesmo tendo um mome francês, ou um pai. 28 anos.
               

               Era verão porque eu lembro muito bem do calor que fazia, eu estava voltando pra casa a pé. Naquela época eu morava em Santa Teresa e tinha 21. Estava sem camisa. Quando cheguei em casa, encontrei o rádio ligado num programa de notícias e eu só conseguia pensar "eu tenho um rádio?" porque nunca antes tinha escutado rádio naquela casa. Bem, o que importava é que a casa não estava vazia. Uma mulher de uns 35 anos estava parada na minha frente quando cheguei ao corredor. Ela na verdade olhava uma foto na parede e parecia extremamente interessada. Fui dizendo - Ei, moça. Por que está na minha casa? - Ao que ela logo respondeu olhando na minha direção uma vez e voltando a olhar pra foto. - Sua casa? É você que mora aqui, então? Olha, cara, me desculpa. Eu tava passando mas eu realmente tava querendo fazer xixi e como a porta estava aberta... Achei que não tinha problema. - E continuou olhando a foto cortada dum recorte de jornal. Tinha um cara segurando um peixe bem grande mas ele não sorria e não estava tratando o peixe como um troféu.
- Olha, por que ligou o meu rádio? - perguntei.
- Seu rádio? HAHAHA. O rádio é meu. Acabei de comprá-lo de um cara aí em cima. Você não tem televisão... então resolvi testá-lo.
- Tudo bem, já usou o banheiro? Não quer ir embora agora?
- Quero, mas antes vou deixar meu número contigo. Você parece legal.
- Eu não quero seu número. - ela já tinha anotado e deixado em cima do sofá. Olhou pra trás e deve ter pensado em buscar o papel mas deve ter tido preguiça também, então só saiu.
               Foi mais ou menos nesse dia que tudo começou.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Eu tinha meu uísque

               Eu imagino o que a fumaça achava disso. Ela sempre dançava descompassada quando saía da minha boca e você achava graça. Sério? Eu era péssimo mas ela gostava de te obedecer. Você brincava de romper os círculos que saíam da sua boca e eu tenho certeza que a fumaça gostava. Tanto que me fazia de idiota na sua frente pra ganhar toda a atenção. No fim não importava, eu tinha meu uísque.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Você está do avesso


               Eu ri porque quem estava do avesso era você e porque estava em todo lugar. "Você está do avesso" estava naquela mensagem e passava na televisão. No jornal lia-se que não era tendência mas que sim, "você está do avesso". Era tudo que se lia. Eu prestei atenção quando você disse, assim como tentei parar de beber quando você pediu. Você parecia quebrada do mesmo jeito que eu, dava pra sentir apesar de você negar. Mas o que seria estar do avesso? Talvez todos os meus sentimentos a mostra, talvez os seus. Vai ver você conseguia enxergar por baixo da minha pele, vai ver era isso. Eu ficava parado na sua frente com ar cansado, disso eu lembro. Você falava sozinha e nunca ria e costumava olhar bastante pros meus pés, poderia saber que eu usava meias diferentes mesmo estando de calças? Era o que eu pensava.
               Você balançava e parecia ouvir uma música que ninguém mais ouvia e dizia que eu te observava muito e que poderia vir a odiar isso. Era mais do que sentir ou observar, mas o quê, eu nunca soube. Talvez eu me sinta perdido exatamente por isso: eu nunca soube o que quis e continuo no escuro esperando você brilhar. "Você está do avesso" brilhava no escuro numa luz forte de neon vermelho e o quarto era só vermelho e seu rosto também. Engraçado como a imagem de você corada voltou a minha mente, parecia pedir que eu fosse embora. Parecia dizer que se eu ficasse você cairia. "Você está do avesso" estava em todo lugar: no espetáculo, nos filmes, nas poesias que ficam fechadas nos livros. Bem, estava em todo lugar, inclusive nos seus olhos que me degustavam os nós dos dedos, os dos cabelos. Na sua boca que me observava tão de perto. Talvez por isso eu estivesse do avesso, porque você falava dentro da minha cabeça num espiral azul que girava e girava e girava e nunca parava. 
               Passaram-se por lá anos e séculos e vidas e nós estávamos sentados no topo da França e vimos esse cara que casava com uma mulher, e essa mesma mulher o trair com um músico islandês de esquina e nós sentamos no topo da França só pra descansar sob esse creme amarelo pegajoso. "Você está do avesso" e eu estou enlouquecendo; "você está do avesso" e não consegue enxergar.


(Soa melhor escutando "Si Tu Vois Ma Mère" do Sidney Joseph Bechet, mas na versão que toca em "Midnight in Paris" do Woody Allen.)

sábado, 4 de maio de 2013

Pálido como folha

               Ele está em cima de você, é verdade. Eu devo estar no teto porque posso ver as costas de alguém se mexendo lá embaixo e parece mar porque ondula. Calma aí, eu quero ir embora. Por que estou nesse seu sonho? Eu vejo dedos cortando aqueles braços e não são braços fortes e parecem vacilar. A verdade é que nunca vi dedos tão brancos ou mãos ou. Há algum tempo era eu que estava deitado bem onde vocês estão agora, eu não podia imaginar que veria seus dedos contorcendo o cabelo de um cara qualquer. Por que eu estou assistindo? Por que não consigo parar? O pior é que você sabe que eu estou olhando, você sabe. Você quer que eu olhe, não quer? Isso que eu sinto é ciúmes? Porque parece ser.
               Sabia que você está revirando os olhos? Não, não precisa abri-los! Aja naturalmente. Você revira os olhos e não passa de prazer apesar de estar tentando não perder o controle. Ele está te abrindo como uma carta, deve estar te lendo, deve estar. Você continua revirando os olhos e no fundo eu gosto porque sempre gostei quando seus olhos perdiam o foco. Agora você sorri e solta cada riso! Continua descendo e descendo e descendo e rindo e isso não é engraçado! Não é. O suor no seu pescoço tá seco ou seria saliva? Você molha os lábios e

Eu não acredito em você.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Que frustrante!

               O limão que dá no limoeiro que tem no meu quintal é amarelo que nem laranja. Isso é tão frustrante! O suco é tão azedo que dá vontade de cortar a maldita árvore e limões amarelos são tão úteis quanto copo vazio...
              Enquanto eu olhava carrancudo pro limoeiro eu percebi que alguém me olhava. Busquei todas as janelas dos vizinhos: nada. Pressentimento besta? Não, porque quando eu me ajeitei no degrau eu a vi: uma rolinha. Sim, aquele pássaro marrom estava bem atrás de um vaso de plantas e esse texto será em tempo real, assim decidido, vamos ver o que acontece:
         Vou pegá-la e colocá-la num lugar melhor, talvez com água. Oh, não! Quando eu tentei segurá-la, ela tentou voar e bateu de cara no muro. Farei uma segunda tentativa: meu deus, droga droga droga mil vezes droga... Eu nunca mais escreverei em tempo real de novo, que porra triste! Quando eu cheguei perto, ela caiu na minha mão como se tivesse desmaiado e começou a se contorcer como se estivesse tendo uma overdose, de fato, vazou um líquido verde de seu bico enquanto ela morria na minha mão de frente pro pote d'água que eu havia trazido. Ela fechou os olhos tão devagar... Será que no fim doeu? A morte é bela? É a grande cena? É a única maldita verdade? Eu não faço ideia e se Deus existe ele poderia ter evitado de começar "No surprises" do Radiohead nos meus fones de ouvido.

(Eu nem consigo acreditar que comecei o texto falando mal de uma árvore e do suco que ela dá)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Musicalize na mente:

Você é tão estranha mas veja bem, eu gosto disso porque dentre todas essas mulheres você sabe me fazer olhar pra mim mesmo, quero dizer, dentro de mim onde eu sou a verdade e uma parte de você aqui mora.
Aqui.
Essa parte pode ser mandona de vez em quando e pede pra eu visitar seu olhar, sua boca, seu jeito. E contanto que eu nao me perca, vale lembrar, você me acha. Você nota e quer saber como foi parar no meu pesar. Como foi parar dentro de mim.