domingo, 19 de maio de 2013

antônio roux, carioca. {1}

               Eu poderia escrever horas e horas sobre ela. Vou lhes descrever o lugar: um quarto mal iluminado, tem umas roupas em cima da cama, algumas no chão. Alguém está gemendo no quarto ao lado já fazem duas horas. A máquina de escrever que eu ganhei há alguns anos está aparentando ser mais velha do que é. Tem uma garrafa de José Cuervo ao lado da máquina, eu estou escrevendo e bebendo enquanto o quarto é mal iluminado, as roupas estão onde estão e alguém geme através da parede. E visto uma cueca e uma camisa branca manchada com não sei o quê. Eu disse que poderia escrever horas e horas sobre ela e é verdade, mas não agora. Quero lhes contar como fiquei quebrado, isso a incluirá em alguma parte e eu não me importo se ela se importa ou não. No fundo, eu sei que ela ainda pensa sobre mim, talvez com mágoa. Se você está lendo isso achando que é uma boa história, esqueça. Se está lendo porque um amigo lhe indicou, arranje um outro. Oh! Existe mais uma coisa que eu lhes preciso dizer: meu nome é Antônio Roux e eu sou brasileiro mesmo tendo um mome francês, ou um pai. 28 anos.
               

               Era verão porque eu lembro muito bem do calor que fazia, eu estava voltando pra casa a pé. Naquela época eu morava em Santa Teresa e tinha 21. Estava sem camisa. Quando cheguei em casa, encontrei o rádio ligado num programa de notícias e eu só conseguia pensar "eu tenho um rádio?" porque nunca antes tinha escutado rádio naquela casa. Bem, o que importava é que a casa não estava vazia. Uma mulher de uns 35 anos estava parada na minha frente quando cheguei ao corredor. Ela na verdade olhava uma foto na parede e parecia extremamente interessada. Fui dizendo - Ei, moça. Por que está na minha casa? - Ao que ela logo respondeu olhando na minha direção uma vez e voltando a olhar pra foto. - Sua casa? É você que mora aqui, então? Olha, cara, me desculpa. Eu tava passando mas eu realmente tava querendo fazer xixi e como a porta estava aberta... Achei que não tinha problema. - E continuou olhando a foto cortada dum recorte de jornal. Tinha um cara segurando um peixe bem grande mas ele não sorria e não estava tratando o peixe como um troféu.
- Olha, por que ligou o meu rádio? - perguntei.
- Seu rádio? HAHAHA. O rádio é meu. Acabei de comprá-lo de um cara aí em cima. Você não tem televisão... então resolvi testá-lo.
- Tudo bem, já usou o banheiro? Não quer ir embora agora?
- Quero, mas antes vou deixar meu número contigo. Você parece legal.
- Eu não quero seu número. - ela já tinha anotado e deixado em cima do sofá. Olhou pra trás e deve ter pensado em buscar o papel mas deve ter tido preguiça também, então só saiu.
               Foi mais ou menos nesse dia que tudo começou.

Um comentário: