sábado, 5 de junho de 2010

"Leve-me".

Eu andava pelo jardim que meu marido havia construído a muitos anos no terraço do meu apartamento, era noite, estava frio mas eu precisava achar um meio de lembra-lo de novo. O perfume dos lírios me transportava para os campos mais verdes e o vento não estava mais castigando tanto os meus olhos, e quando eu os abri, ali estava ele, o meu querido Josterno que partira a alguns anos, por conta de uma grave doença. E nós não estávamos mais em meu terraço, estávamos em um grande campo com milhares de lírios por toda parte. Meu marido acenou e eu andei até ele, cada passo que dava, era mais um ano rejuvenescendo e quando cheguei perto, pude olhar cada detalhe dos seus olhos castanhos esverdeado, ele usava um manto branco e me olhava com certa ternura. Ali, eu me sentia mais do que uma mulher, eu me sentia uma alma iluminada pelos céus. Josterno pegou a minha mão, e sua mão fria me fez lembrar do mundo em que eu estava, poluído, frio, sombrio.
Tudo o que queria era viver para sempre ao lado de Josterno naquele enorme jardim onde eu não tinha nenhuma necessidade, a não ser olhar para aquele ser a minha frente. Ele tocou em meus cabelos, aproximou-se de mim e disse num sussurro meu ouvido “você está morta!”.
Eu levei o maior choque da minha vida, mas soube que aconchegada ali, nenhum mal me aconteceria. E eu apenas dormi em seus braços.
“Mulher é encontrada morta perto de um prédio no Rio de Janeiro, após cair de 8 andares. Estava descalça e usava um manto branco, os médicos não entenderam porque não houveram hemorragias internas e nenhum arranhão externo, na mão, ela tinha um papel com os dizeres:’leve-me’, e isso é tudo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário