quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mentir & nadar.

No fim das contas, o importante não era aprender a nadar e sim mentir; se pudesse fazer com que as lágrimas não formassem o rio que formou, contornando meu sofrimento a uma pequena mentira, talvez, não seria necessário ser salvo por essa menina, que cisma em falar que é mais forte e mais hábil do que eu. Está certo, e é bem verdade também, que se não fosse por ela, hoje não estaria escrevendo nada aqui. Como dizia:
Ela experimentou por muitas vezes guiar a caminho, mas ali, nem eu e nem ela sabíamos onde estávamos. Uma caverna subterrânea cheia de bifurcações. Ela dizia saber por onde ia, eu não acreditava mas a seguia.
Ao fim de algumas horas caminhando, chegamos a um jardim muito cheiroso, onde as raízes das árvores/plantas/flores estavam respirando o ar puro, enquanto o resto era afundado debaixo da terra. Raízes monstruosamente grandes formavam longos caminhos para uma estranha casa torta que estava em cima de um morro.
Chegamos à porta e batemos toc toc toc, uma senhora com um rosto rosa nos atendeu e nos colocou pra dentro, e logo, começou a nos dar comidas. Eu tava bem gostando. Mas July (o nome da metida) estava me mandando parar de comer já, para darmos o fora dali.
Afinal, aquela senhora tinha uma cauda escamosa e verde saindo de suas saias, e aquilo era estranhamente familiar. Talvez visse uma dessas no lago perto da casa.
Fugimos pela janela e rolamos morro abaixo.
Lá em baixo encontramos elefantes elegantes excitantes que conversaram conosco. Eles usavam a palavra como minha professora de literatura e tinham uma espécie de sapatinha para elefantes elegantes excitantes praticarem ballet. Contaram-nos como voltar para o mundo real e disseram que às vezes é melhor nos afogarmos em lágrimas se elas valerem a pena verdadeiramente, como é o meu caso; só de estar gostando de July, agora sei que não devo mentir:
- July, eu te amo.

No fim das contas, o importante não era aprender a nadar e sim mentir, se pudesse [...]

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O conto de Eduarda.

Linda boneca que minha mãe comprou para o meu aniversário de seis anos que tinha sido semana passada, ela estava descabelada, mas eu já daria um jeito naquilo. Estava esperando meu pai chegar do trabalho, ele chegaria ao crepúsculo e eu gostava de sempre correr e abraçá-lo antes da mamãe, assim talvez, ele me deixasse dormir entre os dois. Hoje as coisas foram diferentes.
Meu pai chegou e não me abraçou do jeito de sempre, foi uma coisa mais gelada. Ele sentou-se na cozinha com uma cara de frustração, eu estava abalada.
Por que meu pai estava tão triste?
Dessa vez, eu traria uma surpresa pra ele. Fui à cozinha e peguei sua mão, ele me olhou com a cara de cansado de homem que trabalhou mais do que devia e o puxei com mais força. Ele levantou perguntando “O que há, Eduarda?” eu respondi com um simples “Tenho uma surpresa hoje, hoje tudo será diferente.”; meu pai intrigado foi guiado por mim até a praça que ficava em frente à nossa casa.
Lá, havia vários brinquedos: balanço, gangorra, etc.
Guiei meu pai para o balanço enferrujado e o sentei, muito curioso que estava deixou-se levar, fui pra trás dele e o empurrei.
Sem muito sucesso, continuava a empurrar. O vento iria levar suas preocupações, o vento sempre leva de tudo e hoje elas seriam. Quando voltar, se voltar perder-se-iam suas essências e amanhã seria um novo dia, com um novo objetivo a seguir.
Ele me olhou de um jeito simples e fui sentar no balanço ao lado.
Ali, ao crepúsculo de um dia comum, eu e meu pai estávamos voando alto, iluminados pelas luzes que rodeavam aquela praça. Estávamos livres.
Voltamos e aí sim, ele me abraçou de verdade. Hoje eu não precisa dormir entre eles, eu só queria dormir.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

La banlieue.

A França estava coberta de luzes, naqueles dias, as coisas mais belas que eu já vi. Pequenos trechos de bicicletas passando por ruas com beleza. Eu pensando ao som de um trompete afinado que aquela era a oportunidade perfeita de tirá-la para dançar a mais bela música que sir mr jonny tocava aquela noite brilhante.
Meu pensamento era rápido e ao mesmo tempo bonito afinal, você era aquele pensamento, aqueles.
Meu corpo estava leve, concordava com minha mente que por boa que estava me chamava para perto de você. Alguém com o perfume de Paris. O som entrava e saía do meu ouvindo eu já não controlava as vezes que sorria, não conseguia demonstrar nada a não ser a jovialidade de estar naquele bar às 1:36 da manhã com você.
Seus olhos lançavam um brilho novo à cidade. Não era nada como o marrom, ou como o verde, muito menos o azul e outras cores de olhos. Seus olhos iluminavam o caminho que eu deveria cursar ao seu encontro.
Eu estava preparado, agora, iria abraçá-la e dançaria contigo neste subúrbio. Neste pequeno subúrbio, eu seria um homem, enfim, feliz.
O trompete me guiava aos passos e tu eras de fato, alguém que encanta a dançar.

A gravura desta última cena poderá permanecer contigo, amanhã sei que irá esquecer das palavras, entretanto, não esquecerás a cena que a imaginação lhe proporcionou.

domingo, 21 de novembro de 2010

Cobaia.

Tire já o café da xícara e venha cá!
Outono, dia 13 à 19; o corredor estava frio como de costume, mas a cozinha era distante da sala. E minha xícara era tão pequena.
Atravessar sempre era o certo. Aquele que gritou no começo do texto disse “pegue um agasalho, iremos subir, apenas eu e você. Veremos o mundo!”
Após milhares de experiências, eu não poderia imaginar em como estaria o grande globo, e para o que exatamente o agasalho?
Tantas pessoas já fritaram ali em cima.
Senhor senhor senhor, pensei comigo mesmo, chegaríamos lá e puf puf puf seria nossa pele a derreter.
Ali adivinhou meu pensamento e com um bom ora ora ora, me disse que as coisas estavam um pouco diferentes, afinal, passaram-se nada menos do que 4 bons e longos anos. Aos cálculos matemáticos, físicos, químicos, biológicos, geográficos, lingüísticos, literários, históricos e outras disciplinas chulas e derrotadas, já era hora de subir e ver o bom e velho planeta um tanto de perto.
O comandante me guiou por uma sala que eu nunca teria entrado se pudesse escolher e com o tloc tloc tloc dos passos dele, o vi colocar uma roupa protetora. Disse que eu não precisava disso, pois era jovem. Jovem burro, que sou.
Subimos por uma longa longa longa escada até o bueiro principal e com um staaap, ele foi aberto. Logo eu estava de pé na superfície plana e perfeitamente lisa, assim. E o comandante, amigo meu. Inimigo meu agora, me trancou na superfície e fui sentindo que o calor passou realmente, o tempo estava agradável, porém, meu nariz começou a sangrar brutalmente. O gás que eu respirava que entrava fazendo shhh shhh shhh shhh, me deixou tonto e aí vi as câmeras, antes de morrer levantei o dedo médio. Animais escrotos, me mandaram pra morte;
Jovem burro & cobaia.

sábado, 13 de novembro de 2010

O pequeno mundo dos animais.

O trovejar já veio novamente a apavorar-nos.
Outra vez, sinto a terra tremer sob meus pés, ela está acordada, está levantando.
Eu tenho um amigo, Pedro Puertes, ele me disse que há uma conspiração contra todos os seres humanos, esses, não sabem de absolutamente nada. Quando tudo for revelado, os nossos irmãos que estão a bilhões de quilômetros de distância resolverão conhecer a origem do que lhes convém.
Me disse também, que homens como os presidentes e os poderosos terão cadeira na arquibancada para assistir a destruição de tudo que nós, pessoas que não são importantes para ninguém, construímos.
A terra tremeu mais uma vez.
As ferramentas já estavam sendo preparadas por homens que andam de verde, como de costume. Irão destruir a maior invenção.
Pedro e eu sabemos que não há muita chance de nós fugirmos daqui para poder vagar por galáxias imaginárias por aí.
Mas o que Pedro e eu não sabemos é que só ele vai sobreviver.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Penso gordo, falo magro.

- Como está?
- Muito mal, cara. Mal posso respirar com essa roupa, essa coisa é o que?
- Isso é algodão.
- Cara, eu estou de dieta sabia?! Estou me sentindo até menos gordo.
- Impressão sua, você pode até ter perdido uns 10 quilos, mas 10 quilos não faz a menor diferença...
- Ei, cara. Isso foi bem agressivo sabia?!
- Sabia, sabia. Que coisa fútil de sabia. Sei muito mais do que você, seu saco de banha.
- Cara, eu vou quebrar a sua cara.
- Não, você não vai. Só se vier rolando até aqui.
- Aaaarg, você me paga!
- Olha só gordo, tu tem 427 quilos. Você está deitado nessa cama há três dias sem tomar banho.
- Isso não é verdade.
- Ah, não é? Então qual é a verdade?
- A verdade é que minha mãe joga um balde de água onde tem que jogar.
- Isso é patético e nojento ao mesmo tempo.
-Ei, cara. Quantos anos você tem?
- Tenho 17 anos. E você, gordo?
- Eu tenho 34.
- Hm.
- E sabe qual é a grande verdade, palhaço? Eu gostaria de saber minha reação de como eu iria ficar. Ok. Está aí seu merda, olha no que você vai se transformar se continuar comendo no McDonalds e em seus derivados durante o resto da sua vida. Eu, o gordo, sou você no futuro, babaca. Continua se chamando de gordo que só assim você toma vergonha nessa cara e tenta reverter essa grande merda que eu/você fiz/fez. E agora, quem sabe mais?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

garoto

Acordo praticamente todo dia às 6 da manhã pra pegar o ônibus que me leva a escola, às vezes o ônibus está cheio, às vezes eu sou a única pessoa a pegar o ônibus, mas naquele dia você estava sentada num dos bancos;
Ok, você. Mas eu não te conheço, e a primeira coisa que pensei ao lhe ver foi: Eu tenho um novo amor.
Isso não é exagero, não pra mim que não sou inconstante assim em relação ao amor.
E tipo que você olhou totalmente na minha direção e abriu um pequeno sorriso, desviando o olhar. - Seu bobo, reparou até nos detalhes.
Você estava lá e eu até esqueci de andar e me sentar, portanto fui cutucado por uma senhora que estava atrás de mim e ainda disse: tira essa cara de bobo!
Eu não conhecia aquela senhora não é?
Bem, esses ônibus são diferentes dos normais, os ônibus daqui têm uns bancos virados para os outro, assim sendo, uma “cabina com quatro lugares’, porém, sem paredes.
Sentei de frente pra você, alguns bancos à frente, mas aí sim reparei no homem ao seu lado. E mais uma vez a velha falou comigo, me mandou fechar a boca senão ela iria descolar do meu rosto. Inconveniência braba. Ok.
Ele a beijou.

Ele a beijou novamente.

Novamente.

Novamente.

- Pare com isso! – ouvi minha voz e a tampei a boca ao mesmo tempo assustado. Todos olharam pra mim assustados.
Está bem, encarei a realidade, eu nunca teria aquela menina. Desviei meu olhar pra janela pra despistar meu constrangimento e notei dando um salto e saltando uma exclamação: Estou a 3 bairros depois do meu colégio!
Legal, peguei o ônibus de volta e o meu dia seguiu o mais chato possível.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mito do subsolo

No subsolo os homens dormiam, os homens viviam. Até hoje me pergunto o que comiam. Bem, eles comiam. Eles estavam presos por seus pensamentos primitivos. Nunca chegaram à superfície e duvidavam cegamente que existia alguma superfície.
Onde um homem, do grupo dos enterrados resolveu buscar uma resposta para a temida ‘superfície’.
Ao acaso, encontro uma rachadura no teto, num lugar inabitado pelos seus irmãos, nada muito grande. De lá ouvia-se barulhos e movimentos. Oh, é claro. Há vida na superfície.
Mas por méritos apenas dele, foi-se encontrar uma maneira de subir. Esperteza e agilidade o ajudaram na façanha. Com algumas ferramentas que lutou para conseguir, abriu uma fenda suficientemente grande para um homem adulto.
A claridade aumentava tanto que seus sensíveis olhos não agüentavam por tanto a luz, tapou-lhe com as mãos o sol, porém a dor era grande nós olhos.
Chegou a acreditar que estava no inferno dos infernos. Ficou horas, sentado perto do buraco com os olhos fechados. E foi cerrando-os. Seus olhos ainda doíam, mas ele as viu: as flores, a relva, as frutas.
E aí chegou a acreditar que se tratava do paraíso. Oh, mas ele não morreu!
Ali era a superfície, um lugar lindo, porém muito claro para um homem sem sol.
Resolveu voltar para o subsolo e contar a todos o que viu e o que existia além do teto ou chão.

Pobre homem engenhoso. Além de não acreditarem nele, foi espancado até a morte por seus irmãos.
Os seres humanos não conseguem mudar a vida de uma hora para outra, não conseguem acreditar em uma nova ideia depois de acreditar em outra por toda vida.
Essa é a realidade.

Uma versão criada por mim do “mito da caverna.” De Platão.