sábado, 7 de agosto de 2010

O velho do cais.

O mar está alarmado.
Eu consigo sentir os sabores do oceano. Estou descalço, sinto a terra sob meus pés. Meu coração está acelerado. Minha mente viaja para todas as partes da minha vida. Quase posso sentir os carinhos da minha mãe, do meu pai. Quase posso sentir.

O ar está cada vez mais rarefeito. Posso sentir a minha vida indo para o mar.
Não consigo controlar as emoções, o fim está tão próximo. Só pude escolher o melhor lugar do mundo. O cais. O amanhecer.
É difícil dizer adeus. A curiosidade já ultrapassa o medo. Mas eu sinto dor. Muita dor.

Hoje, em meu último dia, não posso dizer que o final está sendo feliz, porém minha vida foi um conto de graças. Eu tive ajuda dela para que fosse assim, minha esposa.
Conseguia amá-la mais do que a minha vida. Aliás, ela era a minha vida. Mas se foi. Ela levou o brilho dos meus olhos. Estava completamente sozinho e com muito frio.

Nas circunstancias que eu estou não me gabo. A velhice consegue me pegar de jeito. Óbvio que o meu corpo está gasto, aos 67 anos não consigo me manter mais.
A estranha doença que tenho me deixa confuso e desmemoriado. Com tosses monstruosas e dores de cabeça insuportáveis.
Os médicos me deram apenas quatro meses e minha esposa me deixou antes disso. Mas esse pensamento é tão egoísta, não me parece correto. E no meu último dia, eu só espero fechar os olhos e dormir para sempre.

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